10 de janeiro de 2012

Devassa


  Devassa é (piada) no meu país

          Não pude aguentar e tive que escrever sobre isso. Sim eu dei uma enfeitada na história, e sei que falar da Sandy serei mais um em todo o Brasil. Mas para quem tem um pouco de moral vai saber o que eu quero dizer.
          Imagine a cena: na sala de estar, a família assiste ao telejornal de domingo, quando, no intervalo, aparece a propaganda de uma marca de cerveja. A filha pequena acompanha com olhos curiosos e depois pergunta para o pai e logo vai sentando no sofá:
- Pai, o que é devassa?
          O pai, tentando encontrar a melhor definição, apela para o dicionário:
- É uma pessoa depravada, dissoluta, libertina, licenciosa.
- E o que é uma pessoa depravada e libertina – volta a perguntar a filha.
          A coisa vai ficando complicada. O pai fecha o dicionário e tenta sozinho, medindo as palavras com toooodo o cuidado do mundo:
- É alguém que não se comporta bem… “Fica” com muitas pessoas, faz sexo sem compromisso. Essas coisas. (o pai não tinha se ligado ainda na malandragem da filha)
- A Sandy não era uma boa moça de família? (aqui ele se ligou no papo)
- Creio que sim, esquece isso. Pior que a guria não para.
- Ela não é casada?
- Sim, filha, a Sandy é casada.
- A Sandy é devassa?
          O pai pensa um pouco, procura acompanhar a lógica da filha, coça o queixo e reponde com certa insegurança:
- Não. Acho que a Sandy não é devassa. Pelo menos acho que nunca foi.
- Então por que ela fez esse comercial que diz que todo mundo tem um lado devassa?
- Não sei. Talvez pelo dinheiro. Talvez por brincadeira. Sei lá.
- Posso brincar de ser devassa também?
          Neste país do "carnaval", quando a nudez e a baixaria são brincadeira, por que não brincar com a devassidão? Por que não minimizar a imoralidade considerando normal o bizarro e o indecente? Os pais que se virem para explicar essas coisas para os filhos.
          Não sei mesmo o que passa na cabeça da Sandy; se ela fez o comercial por “brincadeira” ou por dinheiro (será que precisa?).
          Não sei se ela cansou de vez da imagem de garota “certinha”.
          O fato é que a campanha publicitaria da cerveja está dando o que falar. Virou motivo de piada no Twitter e permaneceu alguns dias nos Trend Topics como tema mais comentado (“A Sandy é tão devassa que um dia passou em frente à casa da Wanessa Camargo, tocou a campainha e saiu correndo!”, foi um dos melhores #sandyfacts que surgiram na rede social). Segundo os publicitários da agência responsável pela campanha, a intenção era justamente esta: criar repercussão e polemizar. Conseguiram. Ainda mais depois que ela deu uma entrevista para playboy falando algo que eu nunca escreveria aqui.
          Em entrevista ao programa Conexão Direta do canal GNT, Sandy disse que não gostava de cerveja: “Eu não gosto do gosto de cerveja. Não importa se é com álcool ou sem álcool. Acho amargo a cerveja. Gosto de bebidas mais docinhas.” Em resposta a essa incoerência, Sutton, sócio e diretor de criação da agência que criou a campanha, alfineta: “Será que a Juliana Paes toma Antarctica?” Segundo ele, é sabido que a Sandy não é uma bebedora de cerveja ou alguém que frequente baladas. “O conceito [nessa campanha] é mostrar que a Devassa é democrática, que até alguém que não é fã de cerveja deveria tomá-la. Nosso objetivo é conquistar novos consumidores”, diz Sutton.
Se o objetivo é mostrar que até quem não é fã de cerveja pode tomar a bebida, fica também a ideia de que mesmo quem não é devasso pode experimentar a devassidão, ainda que seja de vez em quando – no carnaval apenas, quem sabe?
Anos atrás, também, a revista Criativa afirmou em nota que o jogador Kaká é “sem graça” porque resolveu casar virgem. Engraçados são os jogadores devassos, que se envolvem com travestis, casam e descasam como quem troca de roupa?
A Sandy que me desculpe, mas ao emprestar sua imagem para uma marca de cerveja que promove a devassidão como se fosse brincadeira acabou prestando grande desserviço a uma geração carente de valores e que caminha para a falência moral.
Esse cenário devasso foi profetizado há muitos anos nas páginas da Bíblia Sagrada. E meu único consolo está em saber que logo isso terá fim e iremos morar num lugar em que as pessoas serão vistas como filhos e filhas de Deus, não como pedaços de carne em exibição no açougue carnavalesco da devassidão.

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